A VERDADE POR TRÁS DA RELAÇÃO ENTRE O CÉREBRO, A PELE E AS PSICODERMATOSES


A pele possui muitos significados na área da psicologia e psicanálise. Ela representa o limite físico entre o que “eu sou” e exterior. Por meio da pele se dá o principal contato com o mundo e a interface do eu e o outro. E o outro pode ser nossos pais, filhos, amigos, colegas de profissão, clientes ou nosso grande amor. A pele proporciona experiências sensoriais, tanto de prazer como de dor, ou mesmo de calor ou frio, de proximidade ou distanciamento, e muitas outras. Estas experiências são interpretadas no cérebro em sentimentos, emoções e memórias que estruturam o ego.
Sabemos que a pele é a primeira exposição do ego, é nosso “espelho”, demonstrando a autoimagem e autoconfiança. Esta estrutura maravilhosa funciona como campo de batalha entre o que está acontecendo em torno de nós (exposição á microrganismos, radiações, poluição, ao stress, choques mecânicos, acidentes) e o que acontece dentro de nós (como lidamos com ansiedade, raiva, agressividade, desejos reprimidos, frustração, baixa estima, etc.).
A pele nos trai quando menos esperamos, o rubor da face acontece quando queremos esconder nossos sentimentos, e eles afloram de maneira involuntária. Assim como a sudorese profunda está associada a um estado de ansiedade crônica.
Os profissionais da saúde sabem que as doenças de pele possuem um fundo psicossomático, ou seja, que a causa da doença não é uma só e sim um conjunto de causas, que envolvem aspectos físicos, imunológicos, genéticos, emocionais, psíquicos, profissionais, relacionais, comportamentais, familiares e sociais.

Na psicanálise avalia-se a seguinte questão: a doença de pele surge pela necessidade do toque ou seria o contrário, pela necessidade do isolamento? Cada vez mais acredita-se que o tratamento das doenças de pele precisa envolver várias áreas do conhecimento humano e integrar profissionais de especialidades diferentes, estão surgindo ciências como a Psicodermatologia e Psiconeuroimunologia, que integra médicos e psicólogos na busca de um melhor resultado nas terapias utilizadas nas doenças de pele.
Depois que a doença evolui, os agravantes psicológicos se aumentam, pois os pacientes sofrem discriminação em relação a sua aparência física e se sentem inadequados pela exigência da “normalidade estética” que existe em nossa sociedade.

Estamos falando de doenças denominadas de psicodermatoses como a dermatite atópica, a desidrose, o líquen simples crônico ou neurodermite, a dermatite seborréica, a psoríase, a acne vulgar, a rosácea, a alopécia areata, a hiperidrose, a urticária, o herpes simples e o vitiligo. Estas doenças atingem um enorme número de pessoas nos dias de hoje.
Pode ser que no futuro esse quadro mude, como exemplo, pesquisadores identificaram os genes associados ao desenvolvimento do vitiligo, e ainda afirmam que a causa não é exclusivamente genética, ocorre uma combinação de fatores ambientais e outros no desenvolvimento da doença. As descobertas atuais dão oportunidade para desenvolver novas linhas terapêuticas, e veremos uma medicina personalizada, na qual terapias são desenvolvidas especialmente para pessoas com suscetibilidades genéticas específicas. Medicamentos genéticos!
Até que este futuro chegue, vamos voltar ao nosso cérebro, ao ego, às emoções, à vida e seus desafios. Olhar tudo como um conjunto, que precisa de equilíbrio, assim como ajustes e crescimento. Mesmo que as terapias genéticas sejam desenvolvidas, servirão de enorme ajuda, mas dificilmente serão a solução completa para os anseios da mente. As terapias que promovem o equilíbrio psicológico e emocional dos pacientes podem minimizar os sintomas destas doenças ou depois que os sintomas estão presentes, podem auxiliar os pacientes a conviver melhor com a situação.
Aguardamos ansiosamente estas evoluções, tanto a das terapias genéticas, como a dos procedimentos que consideram o equilíbrio corpo-mente fundamental. O resultado da evolução, sentiremos “na pele”, com certeza!!

DIAS, H.Z. et al. Relações visíveis entre pele e psiquismo: um entendimento psicanalítico. Psicologia Clínica, v.19, n2, p.23-34, 2007

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SPRITZ, R. et al. Suscetibilidade ao vitiligo. Disponível em: <http://www.sbppc.org.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=461&Itemid=26> . Obtida em 16/06/2014 9:00h


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